Miguel Sousa Tavares - Passadeira Vermelha PASSADEIRA VERMELHA
Parabéns, então,sr. João Ferreira:
o senhor conseguiu,finalmente, decidir este campeonato,que nĂŁo havia maneira de se decidir1- Ontem, ao minuto 35 do jogo de Alvalade, o sr. JoĂŁo Ferreira decidiu abrir o caminho do tĂtulo ao BenfĂca, juntando-se a uma vasta campanha nacional em curso que tem como objectivo levar o Benfica ao tĂtulo, nem que seja por decreto-lei.
Quando digo que decidiu, quero dizer exactamente que a anedĂłtica expulsĂŁo de McCarthy
- a mais inacreditável expulsão que eu vi em quarenta anos a ver futebol -
não foi um deslize de momento, uma precipitação do árbitro.
NĂŁo:
ele teve vários dias para meditar na importância do jogo que estava a dirigir. Ele sabia que jogavam dois candidatos ao tĂtulo e que a derrota de um deles - o Sporting-significaria que esse estava fora da corrida, e a derrota do outro - o FC Porto - significaria que ambos ficavam, com toda a probabilidade, afastados do tĂtulo.
E sabia, como qualquer árbitro sabe, que, num derby, reduzir uma equipe a 10 jogadores, ainda para mais a visitante, e quando ainda falta mais de uma hora para jogar, equivale praticamente a sentenciar o vencedor.
Por isso, uma decisão tão determinante no desfecho quanto essa, tem de assentar num facto absolutamente incontestável por todas as partes. Ora, por mais jogos que arbitre, nunca mais o sr. João Ferreira terá oportunidade e necessidade de expulsar um jogador por ele acertar com o braço na anca de um adversário, quando este está sentado em cima dele e delibera-damente o impede de se levantar. Sobretudo quando, minutos antes, o mesmo sr. João Ferreira fez que não viu uma entrada para aleijar do Beto sobre o Quaresma - que não tinha sido, aliás, a primeira. E, como se dez contra onze não fosse já suficiente, o mesmo sr. João Ferreira, culminando uma arbitragem escandalosamente caseira em tudo, desde o critério disciplinar à avaliação das faltas, ainda tratou de expulsar também o Seitaridis, "esquecendo-se" que, não tendo ele cortado com a mão uma bola que fosse a caminho da baliza, a sanção correspondente era o cartão amarelo e não o vermelho.
Podia ser até, que o Sporting viesse a ganhar o jogo com toda a naturalidade e justiça. Mas ele não deixou que as coisas acontecessem com naturalidade e justiça.
De uma assentada, o sr. João Ferreira conseguiu atingir duplamente o FC Porto: tomando decisões que se revelaram determinantes na derrota e privando a equipa de contar com McCarthy para os jogos seguintes.
Numa e noutra coisa, ele nĂŁo Ă©, aliás, original: esta Ă©poca tĂŞm sido inĂşmeros os jogos em que decisões "infelizes" dos árbitros tĂŞm resultado em perdas de pontos para o FC Porto: ainda no penĂşltimo jogo, contra o Nacional (ninguĂ©m falou nisso porque a exibição foi tĂŁo má que nĂŁo cabiam desculpas), mas a verdade, verdadinha, e que o árbitro lisboeta perdoou mnpenalty sobre o Jorge Costa, quando havia 0-1, e fez vista grossa a uma falta sobre o Ricardo Costa que tornou possĂvel o segundo golo do Nacional.
E, quanto ao McCarthy, uma coligação de gente que não gosta de ver jogar grandes jogadores se eles forem do FC Porto - que inclui árbitros, juizes do CD da Liga, adeptos e o presidente do Benfica - têm-se esforçado e conseguido, abusando do poder discricionário de que gozam, para impedir que ele jogue, transformando - o numa espécie de carniceiro do futebol, massacrando inocentes defesas que, coitadinhos, tal como o Rui Jorge ontem, que nada fazem para provocar as suas agressões selvagens.Parabéns, então, Sr. João Ferreira: o senhor conseguiu, finalmente, decidir este campeonato que não havia maneira de se decidir.